quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

(31) LORENA SUBMERSA

Era fim de tarde quando as nuvens negras no céu anunciavam que vinha uma forte tempestade.
Em minutos começou chover fortemente, eu e minha mãe preocupados com a vizinhança rua abaixo; uma hora de chuva forte e não inundou a casa deles o que foi de nos espantar. Bom espanto!
Eu estava na Internet quando minha vizinha bateu na porta do meu quarto desolada, do outro lado do bairro da cruz a enchente foi como jamais vista e sua irmã havia caído no meio da água e foi levada ao pronto socorro.
Quando cheguei, o que vi foi indescritível, as águas subiram muito rápido e teve casa onde a água chegou a bater no peito dos moradores, não choveu tanto para isso, mas na serra com certeza choveu torrencialmente inundando as casas dos moradores ribeirinhos.
A defesa civil e o pessoal da garagem tiveram de fazer cordão humano para tirar alguns moradores da correnteza e gostei muito de ver nosso vice-prefeito, Dr Marcelo Bustamante, dando um apoio moral para as pessoas e preocupado com a nossa farmácia de manipulação que fica na margem do rio também.
Quando a água baixou um pouco fui casa por casa ver de perto o estrago que foi grande, depois fui para o outro lado do bairro, perto do campo do Vera Cruz onde também houve transtornos materiais, em seguida me juntei ao Cláucio para ajudar a distribuir cloro para desinfecção das casas.
Fomos às casas dos bairros Santa Edwirges, Vila Cida, Cidade Industrial, Olaria do Simão (eu não fui lá mas fiquei sabendo que foi um estrago enorme) e Jardim Novo Horizonte.
Enquanto corríamos com o hipoclorito, fomos informados de um desabamento no bairro do São Roque.
Ao chegar lá, foi uma tristeza geral. Na rua da Koréia (não sei se mudou o nome), a casa no chão ainda mostrava na parede do que foi uma sala um dia, alguns quadros na parede, aparentava uma construção de mais de 40 anos, pequena, onde abrigava 11 pessoas, sendo 6 adultos e 5 crianças que estavam no vizinho e por acaso meu amigo Amauri.
Fomos para o social onde a Ivone e seu pessoal arrumaram uma cesta básica, roupas, colchões e cobertores e ao levar para eles, estavam na casa de um parente numa casa perto da caixa d’água no São Roque.
Conversamos um pouco, entregamos tudo e quase ao sair conheci uma pessoa que mudou toda a representação do triste evento para mim, pois até então eu estava na correria, triste, porém firme.
Conheci o Alex, um anjo lá pelos seus 7 anos, vestindo uma camiseta branca de adulto, sentado, tímido, quieto, cabisbaixo, meio sem entender direito o que havia acontecIdo com o seu mundo, sua família, seu lar.
As lágrimas insistem em marejar meus olhos agora, ao recordar aquela cena que jamais esquecerei.
Passei a mão na cabecinha dele, rosto ainda cabisbaixo, levantei sua face e vi rolar uma lágrima.
Entendi que ele poderia não saber direito o que estava acontecendo, mas certamente e em sua inocência ele sabia que seu mundinho acabara de ruir, junto com seu velho, mas seu lar.
2:42 da manhã, termino de escrever essa postagem ainda com os olhos marejados, quero deixar registrado aqui meus parabéns ao pessoal da guarda civil municipal, do pessoal da saúde e do social, ao Cláucio e ao meu amigo Marquinhos que se prontificou voluntariamente a nos ajudar e a todos que de alguma forma ajudaram as vítimas da enchente desta noite e registrar também a falta que nos faz o nosso corpo de bombeiros.
2:44 continua chovendo em Lorena, quero pedir a Deus que não deixe as águas vir com a mesma força de novo e, principalmente, para proteger todas as crianças que para mim são representadas na face triste e desesperançada do pequeno Alex.

3 comentários:

Valeria Fortes disse...

Fico me perguntando o que há realmente atrás de tudo isso que acontece em nosso país? Estas chuvas que estão inundando nosso país é um grande alerta. Estamos recebendo de volta todo o mal que causamos a natureza. E o interessante que não é como "castigo". É porque agora a natureza não pode mais nos defender... Isso Miguel Arraes já disse há muito tempo e ningúem ouviu: "Antes precisavamos da natureza para defender nossos direitos, hoje precisamos do direito para defender a natureza".
A questão machuca de verdade quando vemos perto da gente. O que é notícia na TV incomoda, sensibiliza mas não dói.
Ver o que está acontecenco em nossa cidade é duro. Pessoas conhecidas, muitas já sofridas perderem o pouco que tinham. Para mim não deve ter dor pior do que perder o teto, o abrigo. A gente perde a referência.
Sei que agora nos cabe mobilizar a cidade para socorre-los. Essa ação é imediata. Mas depois precisamos pensar melhor em nossa forma de agir para que isso não aconteça mais. Mudar a postura diante de nossas atitudes pode salvar vidas.
Vc só me perdoe uma coisa... Vc estava lá. Marcelo Bustamante também. E os outros? Tanta gente fazendo falta nesse cenário. Porque ver de perto, muda tudo.
Que também isso seja um sinal de alerta.

To indo... meu norte me espera!

Anônimo disse...

Pois bem ditas e colocadas no momento exato as palavras da nossa colega comentarista Valéria Fortes, pensando no intimo de todos deve ser cruel mesmo perder o que muitas vezes lutamos por meses, anos e até uma vida ser assim desmantelado por uma enchente tao simples de se soletrar porém tão horrivel de se presenciar.
E é verdade onde estavam todos!!!
hehe Abraçosss Mafú... fuiiii!

Anônimo disse...

Ouvi sua entrevista na rádio cultura hj e vc mandou muito bem enquanto presidente da camara interino, era exatamente disso que o povo precisa e quer, uma câmara comprometida com os problemas da população como está enchente lamentavel.
Parabéns e continue assim.