terça-feira, 21 de agosto de 2012

(133) 1835 - Educação é tudo!


“Se você acha que educação é cara, experimente a ignorância”.

Derek Bok

Em 1835 foi instalada a Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo e já na primeira legislatura foi composta a Comissão de Instrução, Educação e catequese dos índios. Nesse mesmo ano, a Câmara Municipal de Lorena enviou um pedido para Assembléia Provincial solicitando a criação de uma Escola de Primeiras Letras com o método lancasteriano.
Ainda em 1822 a Lei n.143, de 25 de novembro, mandou instalar no Arsenal da Guerra, para os operários militares, uma escola de primeiras letras. Pouco depois, aproximadamente 4 meses, em 1º de março de 1823, foi criada uma escola de primeiras letras pelo método do Ensino Mútuo (Lancasteriano) para instruir as corporações militares e, a partir daí, para todas as capitais de províncias, vilas e lugares populosos.
Esse método, conhecido como Método do Ensino Mútuo Inglês, foi o escolhido no Brasil - Império, pois a Monarquia e suas elites tinham consciência da existência “perigosa” das massas populares que foi se constituindo entre aqueles que foram ficando à margem da produção colonial, centralizada nos senhores e nos escravos. Estes contingentes cresceram muito, desestabilizando o sistema. Essa população foi denominada de “massa deslocada, indefinida, mal enquadrada na ordem social, e na realidade produto e vítima dela mesmo”.
Para que essa população pobre, sem patrão, que não tinha riqueza alguma, e nem detinha poder, deixasse de representar uma ameaça, aliada a um Estado Nacional recém criado e pré-anárquico, criaram-se, nesse contexto, estratégias que valorizavam o trabalho, a honra, a virtude, a decência, a limpeza e o bem-estar, em oposição aos elementos que configuravam a “barbárie”, como a indolência, o ócio, a pobreza, a doença e a devassidão, comuns na sociedade imperial. Optaram também por simplificar a religião e a instrução, com a intenção de influenciar nos comportamentos. O meio de converter as classes subalternas ao trabalho disciplinado devia se dar com a educação primária. Primeiramente, o método lancasteriano, foi implantado em 1827 dentro das corporações militares. Os problemas disciplinares e as violações eram muito freqüentes entre os soldados que vinham das camadas mais pobres da sociedade. A primeira instância a ser disciplinada advinha justamente do setor que deveria, no entender das classes dominantes, disciplinar, ou seja, as forças militares. A função dos soldados era evitar agitações, assegurar que as autoridades constituídas fossem respeitadas e vigiar a população livre e pobre. Como membros das forças militares, os homens “sem eira e nem beira”, pobres e livres, eram submetidos a uma disciplina militar, que, primeiramente os disciplinava, transformando-os em bons soldados, obedientes às normas e à hierarquia. Devido a essas questões, os soldados se tornaram os primeiros mestres lancasterianos e esse método disseminou pela província paulista nas escolas de primeiras letras. Lorena e outros vilarejos do vale tiveram suas primeiras escolas com o método de Lancaster.
Em 1846 é criado o Seminário de Educandas da Capital da Província de São Paulo para habilitar as moças que ocupariam as cadeiras da instrução de primeiras letras. Foi um grande passo para a formação da carreira do magistério na província e demonstrava a preocupação com a ampliação do ensino para ocupar a mente e “afastar os vícios”. Foi acrescentado aulas de língua francesa, noções de geografia, desenho e música. Estabeleceu o ordenado das professoras de primeiras letras e algumas vantagens para as professoras casadas.
A regulamentação da instrução primária deu-se nesse mesmo ano e discorria, em 42 artigos, entre outros dados que: o ensino compreendia a leitura, escrita, a teoria e prática da aritmética, proporção, geometria e sua aplicação, ensino da gramática da língua nacional e da doutrina da religião do estado. Faz diferenciação entre o ensino feminino e masculino e também estabelece que todas as cidades e vilas da província deverão ter uma escola de primeiras letras. Diferencia os anos de estudo e estabelece as matérias a serem aprendidas em cada uma delas, também regulamenta a habilitação dos professores e autoriza as Câmaras Municipais a permitirem a criação de escolas particulares nos municípios. Também regulamenta a contratação, direitos e deveres do professor, avaliação no final de cada ano dos alunos, etc.
Em 1858 foi criada a cadeira de primeiras letras para o sexo masculino na freguesia da capela de Cachoeira, Silveiras e amplia o ensino em Lorena, Pindamonhangaba, Guaratinguetá e Santo Antonio do Pinhal.
O Colégio São Joaquim de Lorena realizou suas primeiras matrículas no dia 03 de março de 1890, constituindo um importante centro de ensino particular regional.
É inquestionável a importância da cidade de Lorena com suas 3 Universidades, sendo um complexo de Engenharia da USP com grande investimento público para os próximos anos. Com 39 Escolas Municipais de ensino fundamental, 176 anos após o pedido da criação do Ensino das Primeiras Letras na cidade sob um método definido (Lancasteriano) fica a discussão aos nossos educadores, políticos e sociedade em geral: Será que nossos alunos da escola pública conseguirão entrar nas nossas faculdades? O ensino que temos está preparando nossos alunos para o perfil que a região demandará em poucos anos? Estamos efetivamente planejando a educação das nossas crianças ou apenas cumprindo exigências burocráticas?
Devido a essas e outras questões, apresentarei na Câmara Municipal um requerimento solicitando a ampla discussão da nossa Educação Municipal, um fórum com os nossos educadores, políticos e sociedade em geral, pois como dizia Paulo Freire: “A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda”, ou como na propaganda da TV com a Fernanda Montenegro saindo de um fundo azul; Educação é tudo!

Bibliografia:
Caderno de Sessão 03/04/1835. Sessões da Assembléia. Império. São Paulo.
NEVES, Fátima Maria. O Método Lancasteriano e o Projeto de Formação disciplinar do povo (São Paulo, 1808-1889). 2003, 293f. Tese (Doutorado em História) – UNESP, Assis, 2003.

domingo, 12 de agosto de 2012

Sobre as misérias e as potencialidades humanas



O que somos é conseqüência do que pensamos


(Sidharta Gautama)

Ainda prefiro acreditar nas potencialidades humanas em detrimento das nossas misérias, mesmo que no noticiário do horário nobre ouça vinte notícias ruins para nenhuma, digamos, razoável.


O bombardeio diário do pessimismo das pessoas, da crueldade de pessoas para pessoas e animais, as mazelas sociais, as chagas cada vez mais expostas dos hospitais (quando estes existem), o descaso com o meio ambiente, todas as formas de rupturas, as palavras de desestímulo e de desvalorização do outro e todas as formas de sordidez, mesmo com tudo isto, ainda prefiro ver as potencialidades de cada um de nós.


As pessoas são fantásticas e incríveis, pena que a maioria ainda não saiba disso. Quando vejo as tecnologias, principalmente as que melhoram a produtividade no campo para a produção de alimentos, o computador à minha frente me conectando ao mundo, os avanços científicos descobrindo a cura para as doenças, as diversas militâncias pacíficas e democráticas para o bem comum coletivo e, mesmo que esporadicamente, as pessoas felizes em torno de uma mesa farta, numa lanchonete ou mesmo na porta das casas, conversando sobre coisas boas: nesse momento tenho a certeza, as potencialidades se sobrepõem as misérias.


Todos nós temos nosso lado luz e nosso lado sombra, o segredo é aumentar o nosso holofote iluminado sobre as nossas trevas para sermos melhores. Isso precisava ser ensinado nas escolas, afinal, o ser humano não vem com manual de instruções.


A despeito do capitalismo selvagem que transforma as pessoas em verdadeiros gladiadores na arena da vida, ainda prefiro acreditar que temos uma grande fonte de abundância jorrando bênçãos sobre nós a cada dia, ninguém precisa querer o que é de outrem, é só solicitar, trabalhar, acreditar e ser feliz durante a jornada – A jornada é maravilhosa.


E bem lá no final de cada jornada, sentir a vibração e a grande emoção de pertencer ao mundo que foi prometido para nós – o mundo mais fantástico e fascinante que existe no lugar mais especial e rico de todo o universo e que se torna um ponto de luz para iluminar as trevas alheias – o divino mundo humano de cada um de nós, um lugar que ainda tem muito a ser explorado e compartilhado. Pense nisto!