segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

(119)A representação social do enfermeiro acerca da atenção integral aos usuários de álcool e outras drogas em um município paulista no Brasil.

Esta matéria foi públicada no site oficial da Prefeitura Municipal de Lorena

 

Com o título acima, foi apresentado o trabalho do Enfermeiro da secretaria municipal de saúde de Lorena e Vereador Valdemir Vieira- Mafu, na XI conferência Iberoamericana de Educação em enfermagem da ALADEFE e o III Encontro Latinoamerica-Europa, realizado entre os dias 18 e 24 de setembro em Coimbra-Portugal.

O trabalho, um resumo da dissertação de mestrado apresentado no ano passado na Escola de Enfermagem da USP, em São Paulo, pelo Enfermeiro e Vereador Mafu, teve como cenário da pesquisa a cidade de Lorena e serviu para embasamento para outras pesquisas, principalmente no que se refere ao preparo dos profissionais de saúde para o atendimento aos usuários de álcool e outras drogas. Apresentado em Portugal no dia 23 de setembro pela Pós-doutoranda Maria Odete Pereira, a pesquisa realizada em nossa cidade, durante o ano de 2009, nos 10 PSF de Lorena, está auxiliando diversas outras pesquisas, não só no Brasil, mas agora, podemos dizer, no mundo todo.

Resumindo, a pesquisa evidencia que, com a implantação do programa de saúde da família em 1994, o ministério da saúde propôs reorganizar a saúde a partir da atenção básica, substituindo o modelo tradicional de pouca eficiência, priorizando ações de vigilância, prevenção, promoção e recuperação da saúde, de forma integral e contínua, dentro de uma área de abrangência. A pesquisa utilizou o método das representações sociais e foi dividido em 3 categorias de análise. Com a implantação da nova política de saúde mental, contemplando também os usuários de álcool e outras drogas no SUS, a partir de 2002, diversas dificuldades foram e estão sendo encontradas, como as que a pesquisa revelou, entre elas, destaca-se:

1º- Na análise da categoria processo de trabalho, emergiram as temáticas: produção dos cuidados de enfermagem; gerência e assistência, sendo que na última, foram elencadas as rotinas das unidades, visitas domiciliares sem menção ao trabalho com pacientes de álcool e outras drogas.

2º- Na categoria processo saúde-doença, foram citados vários conceitos que foram se alterando com a evolução e conhecimentos das sociedades nos diferentes momentos históricos, surgindo diversas interpretações acerca do processo saúde-doença, na busca de determinantes causais para o adoecimento. A concepção mágico-religiosa da antiguidade, atribuindo a dependência ao castigo ou ofensa ao divino faz parte do repertório, ainda hoje, de alguns profissionais, conforme observado na pesquisa.

3º- Na categoria processo de inclusão e exclusão social, verificou-se que a representação social dos enfermeiros em relação as suas práticas assistenciais aos usuários de álcool e outras drogas é a de que embora exista uma política de saúde regulamentada, essa está muito aquém de proporcionar uma realidade inclusiva para todos os usuários que necessitam ou buscam serviços especializados, como os centros de atenção psicossocial em álcool e outras drogas ou leitos para desintoxicação em hospital geral, determinando a exclusão social dessas pessoas.

A pesquisa revelou também que a ausência assistencial na rotina dos profissionais, que relataram as atividades cotidianas separando-as em ações gerenciais, assistenciais e educativas são seguidas de acordo com protocolos do ministério da saúde, vacinas, diabetes, hipertensão e pré natal, etc. Como não há protocolo ministerial para álcool e outras drogas, existe o entendimento que não precisa ou não se pode trabalhar com esse público em questão. Observou a inter-relação entre os referencias teóricos relacionados ao processo saúde-doença, concluindo que, a formação teórico-prática do enfermeiro é deficiente, e que é necessária a capacitação profissional para atuar com esse público em questão. Além disso, o preconceito observado entre os profissionais do estudo, para com os usuários de álcool e outras drogas, reflete o olhar que a sociedade ainda tem para com eles: de marginais e não de pessoas adoecidas. Essa concepção está arraigada nos estratos sociais, incluindo, os serviços de saúde.

“Eu que sou formado há mais de 13 anos também sinto a mesma dificuldade encontrada nos resultados deste trabalho que relataram os meus colegas enfermeiros. Precisamos repensar nossa atuação profissional e entender as necessidades dessas pessoas. Infelizmente, podemos observar que o descaso com essa clientela em questão é evidente, visto que o SUS só começou a trabalhar com eles e a efetivar uma política pública a partir de 2002. O resultado da pesquisa mostra que precisamos aumentar o número de horas de aulas práticas e teóricas na saúde mental e na temática de álcool e drogas urgentemente, nas faculdades de ciências da saúde e efetivar a política já posta pelo ministério da saúde para os usuários de álcool e outras drogas, como leitos para desintoxicação em hospital geral como as nossas Santas Casas e, posteriormente, acompanhamento nos Caps Ad (Centro de atenção psicossocial para álcool e drogas), ambos os serviços inexistentes, não apenas em Lorena, como em diversas cidades da região. Para os profissionais que já estão atuando na rede pública, precisamos realizar cursos de capacitação para que, assim, possamos dar os primeiros atendimentos lá no bairro, onde mora o usuário, ou seja, nas unidades básicas e PSFs. Só assim estaremos, de fato, combatendo a principal epidemia que atinge a nossa sociedade na atualidade, a epidemia silenciosa da dependência de álcool e outras drogas.

Para ter acesso a pesquisa na íntegra, disponível na biblioteca digital da Universidade de São Paulo, acesse o link http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/7/7141/tde-11082010-095616/pt-br.php

2 comentários:

Arlete Rodrigues disse...
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Pedro Ribas disse...
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