A QUESTÃO DO CIDADÃO NEGRO NO MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Embora livres através da Lei Áurea desde 1888, 120 anos depois ainda percebemos que a ascensão do cidadão negro nos diversos setores na atualidade brasileira ainda é muito pequena em relação à proporção populacional que representa no nosso cenário demográfico, embora a miscigenação ocorrida no nosso país torne esse fato não muito evidente.
O Brasil tem a maior população de origem africana fora da África.Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) os auto-declarados negros representam 6,3% e os pardos 43,2% da população brasileira, ou seja, oitenta milhões de brasileiros. Tais números são ainda maiores quando se toma por base estudos genéticos: 86% dos brasileiros apresentam mais de 10% de contribuição africana em seu genoma. Devido ao alto grau de miscigenação, brasileiros com ascendentes da África, principalmente subsaariana podem ou não apresentar fenótipos característicos de populações negras (aspectos físicos), porém, apresentam em seus genótipos (aspectos genéticos).
.
O Brasil recebeu cerca de 37% de todos os escravos africanos que foram trazidos para as Américas, de 3 a 4 milhões de pessoas desde 1550. Durante o período colonial, os escravos de origem africana ou indígena eram a quase totalidade da mão-de-obra da economia do Brasil, utilizados principalmente na exploração de minas de ouro e na produção de açúcar.
Os homens eram a grande maioria dos escravos traficados, o que afetava o equilíbrio demográfico entre a população afro-brasileira. No período entre 1837-1840, os homens constituíam 73,7% e as mulheres apenas 26,3% da população escrava. Além disto, os donos de escravos não se preocupavam com a reprodução natural da escravaria, porque era mais barato comprar escravos recém trazidos pelo tráfico internacional do que gastar com a alimentação de crianças.
Embora tenha sido proibido por várias leis anteriores, o tráfico internacional de escravos para o Brasil só passou a ser combatido através da lei Eusébio de Queiroz de 1850, Lei do Ventre Livre e dos Sexagenários, mas foi somente em 1888 que foi definitivamente abolida através da Lei Áurea assinada pela Princesa Isabel. O Brasil foi a última nação ocidental a abolir a escravidão.
Os escravos africanos trazidos ao Brasil pertenciam a um leque enorme de etnias e nações. A maior parte eram bantos originários de Angola, Congo e Moçambique, porém, em lugares como a Bahia, predominaram os escravos da região da Nigéria, Daomé e Costa da Mina. Eram maiores e mais robustos que os bantos, e também mais desenvolvidos. Alguns escravos Islâmicos eram alfabetizados em árabe e já traziam para o Brasil uma rica bagagem cultural. Miscigenaram-se com os portugueses e índios, formando a raiz étnica do povo brasileiro.
A tentativa do governo brasileiro em "branquear" a população marcou o século XIX e início do século XX. O governo libertou os descendentes de africanos, mas não deu assistência social aos ex-escravos, que foram abandonados à própria sorte. O escravo seria substituído pelo imigrante europeu: entre 1870 e 1953, entraram no Brasil cerca de 5,5 milhões de imigrantes, dentre os quais havia uma maioria de italianos, os preferidos do governo, por serem brancos e latinos.
O governo brasileiro ambicionava que os imigrantes se casassem com mestiços e negros, para diluir a raça negra na população brasileira. A entrada em massa de imigrantes europeus no Sul e Sudeste do Brasil mudou relativamente a demografia do País. Em poucas décadas verificou-se que a população de origem "negra e mestiça" foi superada pela população "branca". O casamento entre imigrantes europeus e brasileiros apenas alterou o fenótipo. Geneticamente, a população brasileira continua mestiça.
Nos censos brasileiros, a maioria da nossa população continua se classificando como branca (49,9%), uma parcela considerável como parda (43,2%) e um número muito reduzido como preta (6,3%). Geneticamente, o Brasil tem uma esmagadora maioria mestiça, apenas 14% dos brasileiros são geneticamente brancos, número bem inferior aos quase 50% dos censos do IBGE. A tentativa de grande parte dos brasileiros em se classificarem como brancos no censo é fruto de um racismo velado enraizado na cultural do País, onde a mídia ainda impõe um padrão de beleza ariano.
Coloco ainda alguns dados relevantes sobre a questão do negro na atualidade, tais como:
Segundo dados do Censo de 2000 , promovido pelo IBGE, o Brasil possui 169,8 milhões de habitantes, dentre os quais 76,4 milhões são pessoas negras (pardos e pretos), o que corresponde a 45% dos habitantes, o que tem levado à afirmação de que o Brasil seria a segunda maior nação negra do mundo fora do Continente africano.
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), revelam que o Brasil possui um contingente de 53 milhões de pobres e 22 milhões de indigentes. Verificou-se que os negros em 1999 representavam 64% da população pobre e 69% da população indigente. Os brancos por sua vez, sendo 54% da população total brasileira, representavam somente 36% dos pobres e 31% dos indigentes.
Segundo o pesquisador Henriques o "nascer negro no Brasil está relacionado a uma maior probabilidade de crescer pobre."
Segundo o relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) de 2005, sobre o desenvolvimento humano no Brasil , entre outros dados apresentados, mostrou que o número absoluto de pobres no Brasil, com renda per capitã inferior a R$75,00 no ano de 2000, diminuiu em 5 milhões entre os anos de 1992 a 2001, entretanto, os negros pobres, ao contrário da tendência, aumentou em 500 mil.
Revela ainda, baseado em dados do IBGE, que a renda per capita dos brancos de 1980 era de 341,71 reais corrigidos, mais do que o dobro da renda auferidas pelos negros em 2000, vinte anos depois, que não atingia mais que 162,75 reais. Tais desigualdades, segundo o relatório, demonstram que a democracia racial no Brasil não passa de um "mito", sugerindo, ao final, a aplicação de ações afirmativas, incluindo o sistema de cotas, a fim de corrigir os danos causados pelo racismo “velado” no Brasil.
Portanto, vamos levantar a bandeiras das divergências, discutirmos questões que enfoquem as pessoas no cenário social,pois, só com as pessoas mais consciente e militantes, é que vamos melhorar e mudar nosso Brasil.
Embora livres através da Lei Áurea desde 1888, 120 anos depois ainda percebemos que a ascensão do cidadão negro nos diversos setores na atualidade brasileira ainda é muito pequena em relação à proporção populacional que representa no nosso cenário demográfico, embora a miscigenação ocorrida no nosso país torne esse fato não muito evidente.
O Brasil tem a maior população de origem africana fora da África.Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) os auto-declarados negros representam 6,3% e os pardos 43,2% da população brasileira, ou seja, oitenta milhões de brasileiros. Tais números são ainda maiores quando se toma por base estudos genéticos: 86% dos brasileiros apresentam mais de 10% de contribuição africana em seu genoma. Devido ao alto grau de miscigenação, brasileiros com ascendentes da África, principalmente subsaariana podem ou não apresentar fenótipos característicos de populações negras (aspectos físicos), porém, apresentam em seus genótipos (aspectos genéticos).
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O Brasil recebeu cerca de 37% de todos os escravos africanos que foram trazidos para as Américas, de 3 a 4 milhões de pessoas desde 1550. Durante o período colonial, os escravos de origem africana ou indígena eram a quase totalidade da mão-de-obra da economia do Brasil, utilizados principalmente na exploração de minas de ouro e na produção de açúcar.
Os homens eram a grande maioria dos escravos traficados, o que afetava o equilíbrio demográfico entre a população afro-brasileira. No período entre 1837-1840, os homens constituíam 73,7% e as mulheres apenas 26,3% da população escrava. Além disto, os donos de escravos não se preocupavam com a reprodução natural da escravaria, porque era mais barato comprar escravos recém trazidos pelo tráfico internacional do que gastar com a alimentação de crianças.
Embora tenha sido proibido por várias leis anteriores, o tráfico internacional de escravos para o Brasil só passou a ser combatido através da lei Eusébio de Queiroz de 1850, Lei do Ventre Livre e dos Sexagenários, mas foi somente em 1888 que foi definitivamente abolida através da Lei Áurea assinada pela Princesa Isabel. O Brasil foi a última nação ocidental a abolir a escravidão.
Os escravos africanos trazidos ao Brasil pertenciam a um leque enorme de etnias e nações. A maior parte eram bantos originários de Angola, Congo e Moçambique, porém, em lugares como a Bahia, predominaram os escravos da região da Nigéria, Daomé e Costa da Mina. Eram maiores e mais robustos que os bantos, e também mais desenvolvidos. Alguns escravos Islâmicos eram alfabetizados em árabe e já traziam para o Brasil uma rica bagagem cultural. Miscigenaram-se com os portugueses e índios, formando a raiz étnica do povo brasileiro.
A tentativa do governo brasileiro em "branquear" a população marcou o século XIX e início do século XX. O governo libertou os descendentes de africanos, mas não deu assistência social aos ex-escravos, que foram abandonados à própria sorte. O escravo seria substituído pelo imigrante europeu: entre 1870 e 1953, entraram no Brasil cerca de 5,5 milhões de imigrantes, dentre os quais havia uma maioria de italianos, os preferidos do governo, por serem brancos e latinos.
O governo brasileiro ambicionava que os imigrantes se casassem com mestiços e negros, para diluir a raça negra na população brasileira. A entrada em massa de imigrantes europeus no Sul e Sudeste do Brasil mudou relativamente a demografia do País. Em poucas décadas verificou-se que a população de origem "negra e mestiça" foi superada pela população "branca". O casamento entre imigrantes europeus e brasileiros apenas alterou o fenótipo. Geneticamente, a população brasileira continua mestiça.
Nos censos brasileiros, a maioria da nossa população continua se classificando como branca (49,9%), uma parcela considerável como parda (43,2%) e um número muito reduzido como preta (6,3%). Geneticamente, o Brasil tem uma esmagadora maioria mestiça, apenas 14% dos brasileiros são geneticamente brancos, número bem inferior aos quase 50% dos censos do IBGE. A tentativa de grande parte dos brasileiros em se classificarem como brancos no censo é fruto de um racismo velado enraizado na cultural do País, onde a mídia ainda impõe um padrão de beleza ariano.
Coloco ainda alguns dados relevantes sobre a questão do negro na atualidade, tais como:
Segundo dados do Censo de 2000 , promovido pelo IBGE, o Brasil possui 169,8 milhões de habitantes, dentre os quais 76,4 milhões são pessoas negras (pardos e pretos), o que corresponde a 45% dos habitantes, o que tem levado à afirmação de que o Brasil seria a segunda maior nação negra do mundo fora do Continente africano.
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), revelam que o Brasil possui um contingente de 53 milhões de pobres e 22 milhões de indigentes. Verificou-se que os negros em 1999 representavam 64% da população pobre e 69% da população indigente. Os brancos por sua vez, sendo 54% da população total brasileira, representavam somente 36% dos pobres e 31% dos indigentes.
Segundo o pesquisador Henriques o "nascer negro no Brasil está relacionado a uma maior probabilidade de crescer pobre."
Segundo o relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) de 2005, sobre o desenvolvimento humano no Brasil , entre outros dados apresentados, mostrou que o número absoluto de pobres no Brasil, com renda per capitã inferior a R$75,00 no ano de 2000, diminuiu em 5 milhões entre os anos de 1992 a 2001, entretanto, os negros pobres, ao contrário da tendência, aumentou em 500 mil.
Revela ainda, baseado em dados do IBGE, que a renda per capita dos brancos de 1980 era de 341,71 reais corrigidos, mais do que o dobro da renda auferidas pelos negros em 2000, vinte anos depois, que não atingia mais que 162,75 reais. Tais desigualdades, segundo o relatório, demonstram que a democracia racial no Brasil não passa de um "mito", sugerindo, ao final, a aplicação de ações afirmativas, incluindo o sistema de cotas, a fim de corrigir os danos causados pelo racismo “velado” no Brasil.
Portanto, vamos levantar a bandeiras das divergências, discutirmos questões que enfoquem as pessoas no cenário social,pois, só com as pessoas mais consciente e militantes, é que vamos melhorar e mudar nosso Brasil.
6 comentários:
É isso ai, pessoas inteligente e de papo interresante nao podem ficar no anonimato.
Que bom que voce aderiu a onda dos blogs... adorei seu texto, alias adoro conversar com voce.
Sempre com um papo legal e que enaltece nosso conhecimento.
sou seu fã.
Poucos são aqueles que realmente buscam um saber mais profundo em questões realmente verdadeiras e sérias.
Minha preocupação em relação ao tema é que vivemos num país onde temos o pior dos preconceitos, que é aquele velado, escondido. Parecemos liberais, parecemos aceitar tudo e todos, no entanto, desde que cada um fique no lugar que deve ficar.
Condições igualitárias para todos? É uma mentira. É imprescindível mudar esta postura. Lutar por reais condições.
Não é a cor que faz o homem. É o seu caráter!
Parabéns, amigo. conte sempre comigo pq acredito no poder da união e tenho fé que podemos mudar a consciência do ser humano.
beijos
Muito interessante o assunto, ações afirmativas e igualdade racial. Num Estado Democratico de Direito, Se prima pelos princípios universais do homem e do cidadão, entre eles o direito à igualdade de oportunidades e condições, portanto a responsabilidade é de cada brasileiro, pois o racismo e suas formas de materialização são construidas por cada um de nós, segundo interesses pessoais de poder, defesa e impedimento do outro.
"No E.U.A, o negro tem uma pistola apontada para a sua cabeça. No Brasil, para suas costas. A diferença é a comodidade de quem segura a pistola, no segundo caso" ( Joel Rufino dos Santos, O que é o racismo, 1984).
Valew.
Abraço
ACHEI LEGAL, SÃO POUCAS PESSOAS QUE TEM CORAGEM DE FALAR O QUE SENTE.
E VOCÊ FALOU DE UM TEMA MUITO IMPORTANTE SOBRE OS NEGROS.
PARABÉNS VOCÊ SEMPRE INOVANDO A SUA INTELIGÊNCIA.
TCHAUUUU
BEIJOS
Temos a cor da noite, filhos de todo o açoite, fatos reais de nossa história... música da Lecy Brandão que me veio na memória, ñ lembro direito a letra, mas uma vez ouvi o jorge aragão cantando e me apaixonei por ela!
tio, sou sua fã! como pode um homem ser tão inteligente???
bJUs
É isso aí Mafu. Pena que os lábios da sabedoria estão fechados, exceto aos ouvidos do entendimento e quem os tem?
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