quinta-feira, 3 de março de 2011

(98) CARNELEVARIUM - UMA VISÃO GLOBAL E OUTRA LOCAL

No sábado de carnaval do ano passado publiquei essa matéria, onde já alertava para a necessidade da criação de uma política especílica para o carnaval,  já prevendo as dificuldades da realização da festas nos anos seguintes. Assim aconteceu, esse ano não teremos carnaval em Lorena e, ao menos que criemos o conselho municipal de carnaval, projeto de lei de minha autoria, para organizar e discutir a regulamentação, financiamento e fiscalização das subvenções, o carnaval em Lorena correrá sério risco de acabar.

Acredita-se que as origens do carnaval tenham se dado ainda na pré-história, no período neolítico, quando o homem deixou de ser caçador e coletor (período paleolítico) para se tornar pastor e agricultor, fixando-se a terra, vivendo em clãs familiares, de forma sedentária, perto dos rios necessários a sua produção e subsistência. Estudiosos afirmam que já no Egito antigo, cerca de 4000 anos a.c, as pessoas comemoravam as boas colheitas, pintando o corpo, dançando, cantando em volta de fogueiras e usando máscaras em agradecimento a deusa Ísis e ao deus Ápis. Por volta de 605 a.c, os gregos comemoravam também as fartas colheitas, bebendo vinho em louvor ao deus Dionísio, ritual agregado pelos romanos que por volta do ano 180 a.c, também festejavam em louvor ao deus Saturno (deus da agricultura) e Baco (deus do vinho), com orgias e escândalos denominados Bacanais, sendo proibido pelo Senado Romano.
O termo carnaval é de origem incerta, embora seja encontrado já no latim medieval, como carnem levare ou carnelevarium, palavra dos séculos XI e XII, que significava a véspera da quarta-feira de cinzas, isto é, a hora em que começava a abstinência da carne durante os quarenta dias nos quais, no passado, os católicos eram proibidos pela igreja de comer carne.
Na renascença, o carnaval surge com outra roupagem com os bailes de máscara em Florença, Paris, Nice, Nápoles e o mais famosos de todos, Veneza.
Com o advento da promulgação pelo Papa Gregório XIII do calendário Gregoriano em 1582, estabeleceram-se as datas do carnaval, sempre antecedidos pelos quarentas dias da quaresma.
No Brasil, país onde ganhou sua maior expressão e popularidade, o carnaval foi introduzido pelos portugueses. O entrudo chegou ao Rio de Janeiro por volta do século XVII e foi influenciado pelas festas carnavalescas que aconteciam na Europa. Personagens como colombina, pierrô, arlequim e o Rei Momo também foram incorporados ao carnaval brasileiro, embora sejam de origem européia. O bumbo do Zé Pereira (português de nascimento) embalava a multidão e é o primeiro instrumento de percussão que influenciou a formação das baterias atuais. Nosso carnaval atual teve influencia de diversos movimentos tais como: A capoeira, o entrudo, os ranchos, os cordões, os blocos de sujo e o corso (desfiles de carros do início do século XX). No final do século XIX e início do século XX, as rodas de samba eram coisas de “vagabundos”, pois eram formadas, principalmente, por negros recém libertados e ainda era uma mistura de chachado, maxixe e polca. Em 1928, Ismael Silva, sambista negro reunido com alguns integrantes dos blocos de sujos existentes no bairro do Estácio, em frente a uma “Escola Normal”, foram abordados pela polícia. Quando os policiais chegaram e foram batendo ele disse: “ DEIXA FALAR, nós também somos uma escola, somos uma ESCOLA DE SAMBA”. Nascia ali as Escolas de Samba e a DEIXA FALAR foi a primeira escola de samba do Brasil (atual Estácio de Sá) no dia 12 de agosto de 1928, desfilando no ano seguinte na praça onze, originando assim o atual desfile das Escolas de Samba, que do Rio se espalhou para o Brasil e hoje é considerado o maior espetáculo da terra e a maior expressão cultural popular do planeta.
Em Lorena, nosso carnaval é muito antigo também e já teve épocas de ouro, sendo considerado, juntamente com Guaratinguetá, o melhor carnaval do Vale do Paraíba. Agremiações antigas como Velha Guarda, Embaixada do sossego, Os lenhadores, entre outros, embalaram os foliões dos idos anos 30 e 40. Agremiações mais recentes como o bloco das Bruxas, Caciques da Vila Hepacaré, Batuqueiros da 21, Flor da Avenida do Bairro da Cruz e escolas como Azulão, Boêmios do MAC e Zebrão, deixaram saudades. Lembro-me da minha primeira matinê no Arcadas (mais conhecido como boliche), clube que existia em frente a Fatea, dos bailes no comercial, hepacaré e o popular no mercadão. Temos a segunda escola de samba mais antiga do Vale do Paraíba, A Estrela D’alva do bairro da Olaria, que completou 60 anos em outubro passado. A Unidos de Nova Lorena e Acadêmicos do São Roque estão entre as mais velhas e tradicionais da Cidade que, juntamente com Portela, Gavião imperial e União São João compõem as Escola do 1º grupo da cidade que ainda tem mais 4 no segundo grupo, além de blocos de enredo e de embalos. Crítica à parte, a verba do carnaval vem do que chamamos verbas carimbadas e não pode ser usada para outros fins. Existe uma mobilização de carnavalescos, políticos e prefeitura para se construir uma política para as festas de momo na cidade. Acredito ser importante um trabalho durante o ano inteiro, para que as agremiações não fiquem tão dependentes da verba e que tenham um espaço para as promoções, porque o carnaval é a maior festa popular também na nossa cidade e, como diz o sambista: “O samba não pode parar”. Bom carnaval a todos nós!

(Fotos:Valéria Fortes) Carnaval 2010 Lorena-Bloco Encantados do BC e do Concurso Destaques em Destaque.

3 comentários:

Zezé disse...

Estamos todos muito aborrecidos, esse ano não teremos essa alegria na cidade. Visite Lorena antes que acabe!

André da Cecap disse...

Você e o Dr guilherme junto dá medo, rsrsrsrs, foi muito legal o bloco Encantados no ano passado. Pena que o que é bom dura pouco.

Natália Medeiros disse...

gostei da fala da Zezé "VISTE LORENA ANTES QUE ACABE". Agora nem carnaval tem mais...